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III
O relógio marcava os últimos minutos do dia 24 e já Jardim dormia na sua cama. Sonhava com euros e com dólares. Até que algo terrível acontece. O despertador toca. Até para uma pessoa má como Jardim é um duro castigo. Jardim acorda sem se aperceber que nem sequer tinha programado o despertador para tocar e carrega no botão "Snooze" e sente um papel em cima do botão. Estranho, visto que ele não se lembrava de ter colocado nada lá em cima. Jardim acende a luz da mesinha de cabeceira e repara que o papel em cima do despertador era uma nota de 5000 escudos. Estava ainda meio a dormir e nos primeiros segundos nem se lembrou de que o escudo já não existia e que aquela nota não devia estar ali. Jardim ouve uma voz:
-Feliz Natal!
Jardim, supostamente sózinho em casa, olha à sua volta mas não vê sinais de vida naquele quarto.
-Aqui na tua mão direita.
Jardim olha para a nota e deixa-a cair no chão, assustado.
-O meu nome é Vasco da Gama, vivo na nota de 5000 escudos.
-Aaaaaaaaaaaa
-Sou o fantasma do Passado, fui enviado para te dar o melhor Natal possível.
-Mas.. Estou a sonhar..
-Não. Creio que foste avisado da minha chegada, enviá-mos um aviso pelo Facebook.
-Um aviso?
-Sim, não leste a mensagem daquela imagem que falava de tesouro e coração?
-Aquela mensagem irritante?
-Sim.
-Aquilo era um aviso?
-Bem, o nosso criativo entrou a semana passada na empresa e ainda não consegue fazer maravilhas.
-Eu estou a sonhar, vou masé dormir.
-Não podes ir dormir.
-Porquê? Eu estou na Madeira. EU MANDO AQUI! EU FAÇO AQUILO QUE EU QUISER!
-Tu estás sob o meu controlo. Fazes o que eu quiser e eu quero ir dar um passeio.
-Queres ver as maravilhosas decorações de Natal que eu comprei?
-Não, vamos dar outro tipo de passeio.
-Que tipo de passeio?
-Um passeio ao teu interior, ao teu passado.
-Para quê?
-Isso tens de descobrir sózinho.
-Não me apetece. Se não te calas vou enviar-te pela sanita a abaixo.
Vasco da Gama morde Alberto João Jardim na mão.
-F****. Pra quê esta m****?
-Pensavas que só usava esta boca para morder? Agora que já percebeste que estás acordado, vamos passear!
E assim foi. Alberto João Jardim vê uma luz verde que se envolve à sua volta e lhe encadeia os olhos. Quando a luz desaparece, Jardim vê-se numa Madeira 60 anos mais nova, uma Madeira que lhe recorda a sua infância.
-Este parece o bairro onde cresci. Onde estamos?
-Estamos no bairro onde tu cresceste.
-Como é que é possível, o bairro foi reestruturado.
-Não estamos em 2011.
-Como assim?
-Estamos em 1960.