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Conto de Natal

por Bruno Custódio, em 27.12.11

VI

 

-VAI-TE EMBORA BANDALHO, SAI DE MINHA CASA!!

-Calma Alberto, não se trata assim as visitas, ainda por cima no dia de Natal.

-TU ESTÁS A ESTRAGAR O MEU DIA!

-A minha visita está quase no fim, preciso que faças apenas uma coisa.

-O quê?

-Pega no comando e acende a televisão.

-Para quê?

-Faz o que te digo. Quanto mais depressa o fizeres, mais depressa eu me vou embora!

 

Alberto João continua a resmungar, mas acede ao pedido da nota de 5 euros e acende a televisão. A programação não era a esperada.

 

-O que é isto?

-Não reconheces?

-Parece-me a casa da minha prima Alcinda, eu estive lá em Setembro a fazer campanha para as eleições.

-É mesmo a casa da tua prima. Engraçado que só a conheças das campanhas políticas.

-O que faz a casa da Alcinda na TVI?

-Não está na TVI, eu apenas deixei ali o logótipo para enfeitar. Até acho que fica ali bem.

-Aqueles são os meus familiares. Porque me estás a mostrar isto?

-Para veres o quão divertidos eles estão.

-As festas de Natal da minha família sempre foram animadas, isto não é nenhuma novidade para mim.

-Pois.. realmente.. agora podem jogar à vontade que não há batoteiros por perto.

-Tu não te sabes divertir. Fazer batota é divertido e dá emoção ao jogo.

-Porque é que não estás com eles?

-Porque estou cheio de trabalho e não tenho tempo para estas festas.

-É uma pena, eles gostavam muito da tua companhia. Apesar de tudo, sabias como animar a festa. 

-Eu gosto muito deles, mas as prioridades de um homem mudam.

-E os sentimentos também.

-Como assim?

-Não tens medo de cair no esquecimento no teu seio familiar?

-HAHAHAHAHAHAHA ... impossível meu caro. Eu apareço todos os dias na televisão.

-Pois, claro.. Não corres o risco de sair das cabeças deles, mas já estiveste mais longe de sair dos corações deles!

-Bah

-Deste lado está tudo. Agora muda para a SIC.

-Para quê?

-Faz o que te digo.

-Já está. Quem são estes? Parece-me ser a família do Joaquim Contribuinte.

-Muito bem.

-Não o vejo ali. Não está a passar o Natal com a família?

-Claro que sim, ele está na casa de banho, parece que chegámos na altura errada.

-Está a vomitar? Ele está doente??

-Não, digamos que recebeu uma chamada da natureza...

-Ah bom, ele não pode estar doente. Dia 26 é dia de trabalho.

-Lá estás tu, sempre preocupado com o trabalho.

-Se eu não me preocupasse a Madeira não evoluía. Temos de trabalhar. A época de Natal só vem travar a evolução.

-Eu pensava que gostavas. Com tantos shoppings que inauguras nesta época.

-Ajudam ao desenvolvimento económico.

-Achas mesmo?

-Claro!

-Se tu o dizes.. Mas vamos voltar à mesa. Com os impostos que têm de pagar é uma sorte ainda conseguirem fazer uma ceia de Natal decente. E quem fala da família do Contribuinte fala de outras famílias.

-A vida não está fácil para ninguém.

-Para ti está.

-Mas eu sou uma pessoa importante e trabalho muito.

-Claro que trabalhas. Não me estás a ver mas eu estou a fazer uma cara irónica.

-Bandalho.

-És muito engraçado. Sabes que o problema da família Contribuinte não é apenas a pouca comida que metem na mesa. Olha bem para a pequena Carteira.

-Coitada. Tão nova e com tantos problemas.

-Falei com o meu cunhado do futuro e ele não tem muitas esperanças na sobrevivência dela.

-Mas a pequenita não pode morrer.

-Estás preocupado com os dias de folga que o Joaquim ia ter se a filha morresse?

-Claro que não! Eu gosto da rapariga. É uma querida.

-Pois, mas a situação dela não tem melhoria à vista. Os país não têm dinheiro para comprar toda a medicação necessária.

-Mas não podemos mudar o rumo do futuro?

-Claro que sim. Mas é um esforço complicado e a iniciativa tinha de vir de cima.

-De cima? Como assim?

-Pensa..

-Deus?

-Não. De ti. Se pagares ao Contribuinte o correspondente àquilo que ele trabalha, ele poderá conseguir salvar a familia e, principalmente, a Carteira. Por enquanto a única coisa que eles podem ter é esperança. Agora vamos, o meu trabalho termina aqui.

-Vou receber a visita de mais alguém?

-Sim, daqui a algumas horas. Até lá pensa naquilo que eu e o meu tio-avô te mostrámos e dissemos. Feliz Natal Alberto...

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